Pesquisa revela que empreendedorismo feminino cresceu 15,4% em três anos contra 12,6% dos homens. Banco de permuta tem ajudado a fomentar esse crescimento
Elas estão empreendendo mais. É o que aponta a mais recente pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) realizada no Brasil em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio ao Sebrae aponta o crescimento do empreendedorismo feminino de 15,4% e o masculino em 12,6%. O estudo é de 2016 e aponta também que nos três anos anteriores, mais da metade de todas as empresas abertas no País, 51,5% mais precisamente, tiveram mulheres como fundadoras.
A pesquisa revelou também que elas têm mais coragem na hora de empreender. As dificuldades financeiras não são impedimento para que o público feminino deixe de sonhar com o negócio próprio, o estudo salienta que (41%) iniciam o empreendimento sem capital. Nesse sentido, o mercado de permutas é uma alternativa para fomentar o empreendedorismo feminino, que tem na prestação de serviços uma maior participação. Segundo dados do Sebrae, dos negócios abertos por mulheres 45% são desse setor, em seguida vem o comércio.
A plataforma de permutas multilaterais, XporY.com possui 2.600 empresas e profissionais autônomos, desse total, a grande maioria é de mulheres, segundo Rafael Barbosa, especialista em economia colaborativa e fundador da XporY.com. Os prestadores de serviço também estão em maior número, do total de inscritos na plataforma, 62% atuam nesse segmento. “A área de prestação de serviços é onde se empreende mais, porque na maioria das vezes, não requer um investimento vultuoso. Se as pessoas têm um talento, uma habilidade específica e algum tempo sobrando, ela já está pronta para empreender”, afirma Rafael Barbosa.
A pesquisa da Entrepreneurship Monitor e do Sebrae também revela que a principal motivação delas para empreender é a necessidade: o estudo mostrou que 48% das mulheres abriram um negócio para buscar uma melhor renda financeira, contra 37% dos homens que empreendem por esse motivo.
Prestadora de serviço
Depois de dez anos atuando como corretora de imóveis e para fugir da crise, Hálida de Oliveira, 47 anos, resolveu investir em uma área totalmente diferente e transformou-se numa especialista em sobrancelhas. Atendendo seus clientes em domicílio, há um ano e meio ela resolveu empreender no setor de estética, oferecendo sessões de dermomicropigmentação de sobrancelha e diz que não se arrepende da mudança. “Atualmente tenho clientes todos os dias da semana, e consigo garantir uma renda mensal livre de aproximadamente quatro mil reais. Nos últimos meses em que estava atuando como corretora, não conseguia tirar metade desse valor por mês”, conta a empresária.
Mas a mudança radical de área, exigiu de Hálida, não só investimento financeiro, mas muito treinamento. “Antes de começar fiz vários cursos presenciais e onlines para aprender, não apenas sobre o manuseio dos equipamentos, mas também sobre todos os cuidados e procedimentos de higienização e tudo mais”, revela.
Entre cursos técnicos e equipamentos especializados, Hálida estima que tenha gasto mais de cinco mil reais para montar seu negócio, investimento esse que ela garante ter recuperado em oito meses, ou seja, menos de um ano. “Atualmente gasto uma média de mil reais por mês na aquisição dos produtos e materiais descartáveis, e tiro, como disse antes, uma média que R$ 4 mil”, revela a microempreendedora.
Ao mudar radicalmente de área de atuação, Hálida demonstra realmente que as mulheres são mais ousadas quando se trata de empreender. “Eu nunca tinha trabalhado na área de estética, mas sempre gostei de levantar a autoestima das pessoas e vi na dermomicropigmentação de sobrancelha a possibilidade de uma nova profissão. Então resolvi investir”, conta Hálida.
Em setembro do ano passado, a microempreendedora se cadastrou na XporY.com para conseguir mais clientes para horários que ainda tinha disponíveis. “A XporY.com para mim foi um divisor de águas para o meu reconhecimento profissional. Fiz novas amizades, além de ter sido um incentivo para divulgar o meu negócio”, afirma.
História de fé
E foi com muita fé e R$ 25 que a empresária Aparecida Carrijo, 50 anos, mais conhecida como Cida começou seu negócio, a Elegance Caixas Especiais, empresa cadastrada na X por Y, com 20 anos de mercado e pioneira no Centro-oeste.Cida Carrijo e o esposo, Wesley Sousa Carrijo, são evangélicos e diz que sempre cultivou e praticou, seja no trabalho ou na vida pessoal, os valores da religião. A empresária conta que a ideia de fazer caixas de presentes para vender veio como uma profecia divina.
“Um dia meu esposo, que era motoboy em uma papelaria, estava no trabalho e uma pessoa deixou umas caixas para presente em consignação com a dona do comércio, então ela o chamou para ver o quanto as caixas eram bonitas, e quando ele olhou ele diz ter ouvido o Senhor dizer em seu coração: ‘Vou mudar sua vida com isso aqui’, relembra Cida.
Ela diz que o esposo relatou o ocorrido e que ele havia achado aquilo estranho.”Ele saiu fez umas entregas e quando voltou e passou em frente a vitrine da papelaria novamente. Olhou as caixas e de novo ouviu o Senhor falar com ele: ‘Vou mudar sua vida com isso aqui”, conta Cida.
Quando o marido relatou a experiência, Cida falou que só tinha na bolsa 25 reais e ele disse para guardar aquela quantia. “Tudo aconteceu no final de uma sexta-feira, na segunda-feira, ela passou o dinheiro para o marido e ele saiu perguntando por toda cidade, nas entregas que fazia para ver se tinha alguma informação sobre os tais “potinhos de papel” [as embalagens]. Não sabíamos que existiam caixas para presentes.”, disse Cida.
A empresária conta que o marido descobriu que as caixas deixadas na papelaria eram feitas de papelão, papel de presente e cola. Eles compraram o material, colocaram em cima da mesa, olharam um para o outro e se perguntaram: “E agora?”. “Decidimos fazer uma caixa de coração, que foi a mais difícil até hoje. Começamos nossa primeira caixa no domingo ao meio dia e terminamos a uma hora da manhã, gastamos quase todo o material, fazendo e jogando fora. E no outro dia vendemos a caixa pra minha vizinha, que pagou 15 reais”, conta a empresária.
Cida aprendeu a fazer as caixas e as colocava em sacolinhas de plástico e saia oferecendo na vizinhança e em pequenos comércios, e assim começou as vendas. Com o passar do tempo foram surgindo encomendas de caixas sob medida e as vendas aumentaram.
Permuta
Cadastrada no banco de permuta da XporY.com desde o início do ano passado, Cida Carrijo viu na plataforma de permuta uma oportunidade de divulgar seu trabalho e prospectar novos clientes. O produto oferecido são caixas de luxo, que servem para ser a embalagem de presente ou o convite para determinado evento, como, convidar para casamento, chá bar, aniversário, eventos e uma infinidade de ocasiões.
Cida conta que quando entrou na XporY.com ela simplesmente queria vender seus produtos para conseguir juntar os X’s, mas com o passar do tempo ela percebeu que a plataforma poderia ajudar na divulgação de seu negócio e fazer com que ele ficasse ainda mais conhecida, pois segundo ela nem 1% da população de Goiânia conhece sua marca. “Clientes que passaram a me conhecer através da X por Y, hoje são meus clientes em R$ também e assim seguimos ajudando uns aos outros. Isso sim é economia colaborativa, pois eu amo a XporY”, disse.
“Com os X$ que eu acúmulo já usufrui de diversos produtos e serviços para minha empresa no banco de permuta. Já comprei cartões de visita, fachada da loja, adesivos plotados, limpeza do piso da fábrica, lavagem a seco de tapetes”, exemplifica Cida alguns dos trabalhos contratados pela plataforma.